Quando o sol caiu

Quando o sol caiu não solucei,
Enchi o peito com o ar que ainda tinha
E pensando estar pensando não pensei.

Os laços e esperanças ramalharam,
As notas da guitarra se calaram
Em nome de um destino que eu herdei.

Quando sol caiu me desarmei...
Mirei sem desencanto o horizonte
Com olha de uma história que eu não sei.

A Terra se partiu num grande abismo
E à beira desse abismo eu me abanquei.

O choro retumbou nos meus ouvidos
No tom amplificado de um trovão;
Paralisando vozes e sentidos,
Gelando e incendiando o coração.

A lira, sem rituais, cortou os pulsos,
Lembrando de um amor que não provou;
E o poeta revisou seus absurdos
No sangue que a Lira derramou.

Quando sol caiu sequei o mate
Num último resquício de prazer...
Num último recado à solidão.
Não importavam mais os alambrados...
Nem o silêncio dos desesperados,
Nem o futuro me escondendo a mão.

Não havia pandorgas pelo céu
Nem cruzavam canoas pelos rios...
As potradas cessaram seus tropéis,
Tantos dedos negando seus anéis,
Tantas caras sorvendo seus estios.

A minha faca estava bem afiada,
Minha bombacha estava bem passada
E a minha alma estava por estar;
O sol beijou com sua boca quente,
Um gosto doce salivou no beijo
E nesse instante me encontrei em paz.

Quando o sol caiu, eu tinha febre,
Fazendo contraponto ao seu calor...
A pele do silêncio ficou leve
Tatuada com brasão de estranha cor.

Quando o sol caiu, também caí,
No abismo que eu costeava sem sentir...
No fundo desse caos que eu cavei,
Talvez um dia eu volte por ali...
Quando o sol caiu, eu renasci,
E ao lado do meu catre...
...despertei!

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