Os olhos nem se cruzaram desde a saída pra lida...
Um vinha mais que montado num baio que era um solosso,
O outro vinha num trono, enforquilhado no mouro.
Dia longo, sol ardendo, légua e pico, campo vasto...
Enfim o final de tarde e a volta mansa pras casas.
Num repente o do baio cravou as esporas e deu-lhe boca!
O outro, por ligeiro, já cutucou num puaço o mouro que vinha quieto.
Poeira comendo floxa, gritedo ecoando longe!
Pata que pata os cavalos!
Relho que relho os gaúchos!
Carreira sem pretensão,
Sem cismas de cancha reta...
Uma carreira de campo,
Conforme disse um poeta.
Carreira desses parelhas
Corrida por dois iguais...
Dois índios de campo e lida
Com almas de temporais.
Mas havia no caminho uma toca de mulita...
Houve uma toca, uma para enfiada,
um mouro rodado, um pescoço quebrado,
Uma moça viúva, dois piazitos órfãos e um velório às pressas.
Houve sim, mas e por quê?
Por que a carreira, por quê?
Nem mesmo o moço do baio
Ao certo soube dizer.
Por que se calou de soco
Quem tinha muito a viver?
Por que se calou, por quê?
Por entre o pranto de todos,
Em vez do moço do mouro
Jazia apenas um corpo
Já sem estrelas no olhar.
Ao lado os Caveiras sorriam com suas xaras brancas,
Estranhos feito um palhaço dançando dentro de um vaso.
Só eles sabiam ...
Só eles tinham a voz;
Sabiam cada segundo
Da hora de todos nós.
Sabiam quem tinha a foice
Afiada, à mão de ceifar...
Sabiam o tempo exato
Que a foice cortava o ar!
Os caveiras se esbaldavam...
Sorriam suas caras feias
De um jeito devastador.
Talvez lembrando o momento
Em que um deles se achegou se engarupando no baio
E soprou ao pé do ouvido do que se achava montado:
"-Crava as esporas e azula"
E assim foi que aconteceu.
Talvez lembrando o momento em que o outro, surrutante,
Chegou pra o hoje finado, e disse: Corre de atrás"
E o koço, por bem mandado, correu de atrás... e morreu.
Se divertiam assim...
Assim era que passavam.
De vez em quando nos rios, nos açudes mais traiçoeiros,
Nos arroios mais covardes, chegavam pra gurizada,
Como não querendo nada: "-Mas tchê, que baita calor!!"
O suficiente já era...
Em dez ou quinze minutos, meis dúzia de afogados
Pra aumentar sua coleção.
As palavras dos Caveiras
(Com suas sílabas ttraiõeiras)
Eram o engodo da morte.
Tantas feitas sucedidas com feições inusitadas...
Tantas coisas escondidas em histórias mal contada;
Os Caveiras eram praga pairando por esta terra;
Se já aprontavam na paz, se deliciavam na guerra.
Trinta e cinco foi assim, paraíso pra os Caveiras
Que ponteavam cada carga com suas freses derradeiras;
Noventa e três, tempos brabos...Eles chegaram gabolas...
Lavaram as caras brancas no sangue ruim das degolas!
E assim foi por tanto tempo...
Em cada revolução...
Em cada fio de vinhança
Do cornudo da ocasião.
Em cadavtrago de canha
Das peleias de bolicho,
Estavam sempre os Caveiras
Com seus medonhos cochichos.
Era o engodo da morte
Satisfazendo os caprichos.
Sei que a morte não é o fim,
Mas precisa ser assim?
Derrubados pelo engodo
Com palavras de festim?
Cadê a seqüência das coisas?
Cadê os ciclos naturais?
Pior que a morte de um filho
Só mesmo a dor de seus pais...
Não tem a mão do destino
Nessas piadas fatais!
Ouço uma voz murmurante acariciar meu ouvido,
Enleiando os pensamentos em cada duplo sentido...
Talvez me leve por diante, talvez me arraste no estribo.
Quem sabe são os Caveiras, sorrindo em suas caras brancas,
Trazendo o engogo da morte, cobrando a vida sem prazo...
Estranhos feito um palhaço dançando dentro de um vaso!
Ao lado os Caveiras sorriam com suas "xaras" brancas é xaras mesmo ou é caras?
ResponderExcluirAs palavras dos Caveiras
(Com suas sílabas "ttraiõeiras") ???