Picava fumo meio sem jeito naquela hora sebruna;
Era um fumo dos buenos, amarelinho,
“flor de tropa” do bolicho velho
Era um homem dos buenos, bem gaúcho,
“flor de tropa” de qualquer galpão.
Sua mão ainda ágil deslizava
pelo cabo de uma faquinha sem marca,
Mas afiada feito língua de fofoqueira
em dia depois de baile.
O fumo, estranha serpente inerte e contorcida,
Aos pouquinhos ia se transformando
Em um punhado de pequenos mundinhos, pedacinhos
E farelos de odores, sabores, desejos e prazeres ocultos
E a longo prazo de males bem conhecidos.
Cada mundinho de fumo parecia matutar:
“-Será palha ou Colomi?”
E o gaúcho nem aí...Dê-lhe faca e dê-lhe dedo!
Talvez picando seus medos nesse longo repetir.
Já era o terceiro naco picado assim a preceito,
Talvez abrindo caminho pra esfumacear o seu peito;
Pra fazer toda a fumaça se tornar nuvem no céu...
Mas todo o fumo rumava pra um saquinho de papel.
Não fumava, nem mesmo dos fabricados,
Mas mesmo assim continuava a picar;”
“-Esse homem é do avesso, mas não dá pra se preocupar.”
Disseram uns companheiros...
“-Mas é um baita dum parceiro na hora de trabalhar.”
Já remendaram no ato com medo do pau pegar.
“-Do avesso é a vó torta!, respondeu de relancina.
No mais ficou em silêncio por uns quilos de minutos,
Picando e picando fumo até outro naco ter fim.
Se vieram os companheiros,
Se vieram pra perguntar.
“-Porque picar tanto fumo
Se tu sequer vai fumar?”
“-Sanidade não tem preço...
Ou tu é mesmo do avesso
Ou então quer te mostrar.”
Ele respondeu no ato,
Como quem quer vale-quatro
Tendo na mão mais que um ás.
“-Ouvi no rádio umas coisas que fizeram pensar...
Que me tiraram da caixa, me levaram de roldão
E que me deixam surpreso com tanta interrogação.”
“-Se tem faca que não corta,
Se tem luz que não clareia,
Se tem gênio que não pensa
E burro que não burreia.”
“-Se tem revólver que engasga,
Se tem galo que não briga;
Tem uns esbanjando bóia
E outros roncando a barriga.”
“-Me digam sem implicar...
O que é que tem demais picar fumo e não fumar?”
“-Se tem gente que se elege pra melhorar a nação
E se esquece do que disse logo depois da eleição;
Se tem pastor que arrecada pra distribuir aos irmãos
E quer sair do país com os pilas no culhão.”
“-Se tem polícia mal paga pra cumprir sua função
E por vez desconta a mágoa no couro do cidadão.”
“-Se o povo em vez de viver tem desviada a atenção
Porque só são no jornal mensalinho e mensalão;
Se até no futebol tem juiz que é mesmo ladrão...”
“-Me digam sem implicar...
O que é que tem demais picar fumo e não fumar?”
“-Se tem ciclone em Torres, tornado em Muitos Capões,
Se o mundo todo desaba com ondas e furacões.
Se isso é fruto de uma espécie que planta devastação,
Suga a terra, cansa o ar e no final lava as mãos...”
“-Me digam sem implicar...
O que é que tem demais picar fumo e não fumar?”
“-Oigalê, bicho daninho!
Do avesso tá mesmo o mundo...
Eu tô aqui, picando fumo,
Bem quieto no meu cantinho!”
Era um fumo dos buenos, amarelinho,
“flor de tropa” do bolicho velho
Era um homem dos buenos, bem gaúcho,
“flor de tropa” de qualquer galpão.
Sua mão ainda ágil deslizava
pelo cabo de uma faquinha sem marca,
Mas afiada feito língua de fofoqueira
em dia depois de baile.
O fumo, estranha serpente inerte e contorcida,
Aos pouquinhos ia se transformando
Em um punhado de pequenos mundinhos, pedacinhos
E farelos de odores, sabores, desejos e prazeres ocultos
E a longo prazo de males bem conhecidos.
Cada mundinho de fumo parecia matutar:
“-Será palha ou Colomi?”
E o gaúcho nem aí...Dê-lhe faca e dê-lhe dedo!
Talvez picando seus medos nesse longo repetir.
Já era o terceiro naco picado assim a preceito,
Talvez abrindo caminho pra esfumacear o seu peito;
Pra fazer toda a fumaça se tornar nuvem no céu...
Mas todo o fumo rumava pra um saquinho de papel.
Não fumava, nem mesmo dos fabricados,
Mas mesmo assim continuava a picar;”
“-Esse homem é do avesso, mas não dá pra se preocupar.”
Disseram uns companheiros...
“-Mas é um baita dum parceiro na hora de trabalhar.”
Já remendaram no ato com medo do pau pegar.
“-Do avesso é a vó torta!, respondeu de relancina.
No mais ficou em silêncio por uns quilos de minutos,
Picando e picando fumo até outro naco ter fim.
Se vieram os companheiros,
Se vieram pra perguntar.
“-Porque picar tanto fumo
Se tu sequer vai fumar?”
“-Sanidade não tem preço...
Ou tu é mesmo do avesso
Ou então quer te mostrar.”
Ele respondeu no ato,
Como quem quer vale-quatro
Tendo na mão mais que um ás.
“-Ouvi no rádio umas coisas que fizeram pensar...
Que me tiraram da caixa, me levaram de roldão
E que me deixam surpreso com tanta interrogação.”
“-Se tem faca que não corta,
Se tem luz que não clareia,
Se tem gênio que não pensa
E burro que não burreia.”
“-Se tem revólver que engasga,
Se tem galo que não briga;
Tem uns esbanjando bóia
E outros roncando a barriga.”
“-Me digam sem implicar...
O que é que tem demais picar fumo e não fumar?”
“-Se tem gente que se elege pra melhorar a nação
E se esquece do que disse logo depois da eleição;
Se tem pastor que arrecada pra distribuir aos irmãos
E quer sair do país com os pilas no culhão.”
“-Se tem polícia mal paga pra cumprir sua função
E por vez desconta a mágoa no couro do cidadão.”
“-Se o povo em vez de viver tem desviada a atenção
Porque só são no jornal mensalinho e mensalão;
Se até no futebol tem juiz que é mesmo ladrão...”
“-Me digam sem implicar...
O que é que tem demais picar fumo e não fumar?”
“-Se tem ciclone em Torres, tornado em Muitos Capões,
Se o mundo todo desaba com ondas e furacões.
Se isso é fruto de uma espécie que planta devastação,
Suga a terra, cansa o ar e no final lava as mãos...”
“-Me digam sem implicar...
O que é que tem demais picar fumo e não fumar?”
“-Oigalê, bicho daninho!
Do avesso tá mesmo o mundo...
Eu tô aqui, picando fumo,
Bem quieto no meu cantinho!”
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