A aura do poço era densa,
Não fazia júa à água que acolhia...
A água vinha da terra, do fundo da terra,
O poço veio dos homens, da sede dos homens.
A sede do poço era febre...
Queria muito mais que água,
Queria muito mais que os homens...
Engolia o céu por sua boca.
A boca do céu gritava, clamava, orava,
Mas a boca do poço era voraz...
A boca do poço, ah, a boca do poço,
Quem dera jorrasse num beijo de paz.
A boca do homem tem sede, procura o poço,
O balde na boca do poço, procura a água,
A água, na boca do balde, se entrega ao balde,
E a boca do poço saliva na boca do homem.
Lábios de seca se entregam aos caprichos da água,
Almas de seca evaporam na fome do balde...
Poeira, não mais que poeira por todo lado!
Só sede, não mais que sede, num chão cansado.
Quem evapora nessa nuvem negra?
Quem segue adiante nessa estrada louca?
Só quem saberá essas respostas
É quem cala a voz da sede com sua boca.
Mas a fome do poço é imensa...
Trespassa dimensões com seu tamanho...
O poço verte causa e conseqüência
Da sede da consciência dos humanos.
Quem sentirá tanta sede?
Quem beberá tanta água?
A voz do poço é um pálido sussurro,
O véu do poço é bruma quase extinta...
Só resta água pra os corpos sedentos,
Só resta o nada pras almas famintas.
Só o poço murmura vida por sua boca,
Palavras que o balde jorra engolindo a sede...
Palavras que o poço fala, mas quando fala,
Seu timbre aprisiona os homens em suas paredes!
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